ANÁLISES DE ÁCIDOS GRAXOS NA APCBRH ESTÃO CHEGANDO!

Prof. Dr. Rodrigo de Almeida | UFPR

Novas análises de leite estão disponíveis no Laboratório Centralizado de Análise de Leite da APCBRH.A partir de agora tanto produtores como laticínios podem encaminhar amostras de leite de vacas ou de tanques para análise dos ácidos graxos (AG) do leite.

Laboratório da APCBRH

Ácidos graxos são o principal componente da gordura do leite; 94-95% da gordura do leite são ácidos graxos. Estes ácidos graxos podem diferir quanto ao tamanho da cadeia (AG de cadeia curta, média ou longa), quanto a presença de insaturações ou duplas ligações (AG saturados, monoinsaturados ou polinsaturados) e quanto ao local de origem (AG de novo, mistos ou pré-formados). 

Estas novas análises são possíveis porque a APCBRH tem equipamentos automatizados que mensuram estes novos parâmetros e também porque mensalmente amostras com valores conhecidos são importadas do Canadá para calibrar os equipamentos da Associação.

Existem mais de 400 diferentes AG na gordura do leite bovino, mas a APCBRH vai divulgar neste primeiro momento as 10 categorias de AG mais importantes, ou seja: AG saturados (AGS), AG monoinsaturados (AGMI), AG polinsaturados (AGPI), AG insaturados (AGI), AG palmítico (AG com 16 carbonos e nenhuma dupla ligação, C16:0), AG esteárico (18 C e nenhuma dupla, C18:0), AG oleico (18 C e uma dupla, C18:1), AG de novo (AG até 14C), AG mistos (AG de 16C) e AG pré-formados (AG com 18 ou mais C).

Reconhecemos que num primeiro momento tudo isto pode parecer complicado, e por isso que pesquisadores e técnicos podem e devem auxiliar os produtores de leite na correta interpretação destas novas análises. Destes 10 novos parâmetros, qual deles devemos focar ou priorizar inicialmente? Na minha opinião, nos AG de novo, que são AG de cadeia curta e média, de 4 a 14 C, e que são obrigatoriamente sintetizados ou produzidos na glândula mamária de vacas em lactação.

Por que este destaque inicial nos AG de novo? Indo direto ao ponto, porque eles são indicadores de saúde ruminal, ou seja, quanto mais alto os valores de AG de novo, melhor, pois eles são indicativos de um rúmen saudável, com pH normal e com boa fermentação da fibra dietética e dos outros ingredientes da dieta. E se a proporção de AG de novo estiver reduzida, o que isto significa? Isto muito provavelmente é um indicativo que a vaca tem um quadro de acidose ruminal subaguda (SARA em inglês), quando o pH ruminal está muito ácido, abaixo do pH de 5,8.

Mas qual é a consequência de vacas em lactação apresentarem SARA ou queda do pH ruminal por muitas horas ao longo do dia? Porque isto leva a um quadro de depressão (ou queda) nos teores de gordura do leite (DGL), mas também uma piora nos teores de proteína do leite. Além disso vacas com baixa%AG de novo, também apresentam mais problemas de claudicação, diminuem a ruminação, passam a apresentar esterco mais mole e com material não digerido e a longo prazo estas vacas têm menor longevidade.

O ponto chave é que por décadas nós acreditamos que o melhor indicador de acidose ruminal subaguda (SARA) era a baixa porcentagem de gordura total do leite. Pois bem, isto não é mais verdade… o melhor indicador de SARA é a baixa proporção de AG de novo! Nesta etapa inicial pós-lançamento destas novas análises é importante conhecer quais são os valores mínimos aceitáveis de AG de novo no leite; nossa sugestão é que idealmente o AG de novo seja maior ou igual a 0,8 g/100g de leite ou maior ou igual a 23 g/100g de gordura.

Ao avaliar um rebanho ou um lote de vacas com alta proporção de animais com baixo de novo, o produtor e seu técnico deveriam investigar quais são as razões desta provável ocorrência de acidose ruminal. Entre os principais fatores de risco, eu destacaria: baixa inclusão de fibra efetiva na dieta, alta inclusão de amido na dieta, alta proporção de amido degradável no rúmen (por exemplo, oriundo dos grãos de milho da silagem ou do grão úmido de milho), alta inclusão de AG polinsaturados na dieta (por exemplo, oriundo do óleo de soja), alta inclusão do ionóforomonensina na dieta, entre outros fatores.

Para produtores de leite associados da APCBRH que recebem um sistema de bonificação por qualidade ao serem pagos pelo leite entregue, as análises de AG recém-lançadas são ainda mais importantes, porque maior %AG de novo estão associadas com maiores teores de gordura e de proteína e, portanto, maiores bonificações e mais centavos por litro de leite entregue. Este é um caminho sem volta, porque no Brasil e no mundo a gordura do leite está sendo cada vez mais valorizada pelos laticínios e pelos consumidores.

Mesmo para os produtores de leite que ainda não recebem bonificações pela gordura do leite alta (e penalizações pela gordura baixa) cabe destacar inicialmente que isto ocorrerá muito em breve. Mas mesmo não sendo remunerados de imediato, é bom saber que nossas vacas que produzem leite com alta proporção de AG de novo são vacas mais saudáveis, com menos acidose ruminal, que ruminam mais, que caminham melhor, e que portanto, durarão por mais tempo!

Portanto, concluindo, estas novas análises de leite da APCBRH vão permitir ou auxiliar que os produtores paranaenses continuem produzindo grandes volumes de um leite nutritivo e bem-remunerado pela indústria, oriundo de vacas bem manejadas e alimentadas, e que portanto, serão mais longevas, conciliando altas produções, menor impacto ambiental e bem-estar animal.